Já escrevi aqui sobre as mulheres sustentáveis, mencionando sobre a desigualdade de gênero e a violência contra a mulher, destacando a importância da busca pela igualdade como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Também mencionei que apesar dos avanços legais, como a Lei Maria da Penha e as leis mais recentes de 2023, a discriminação e a violência contra a mulher persistem. Ao final argumento que uma mulher sustentável é aquela que possui acesso a direitos básicos, como educação, saúde e trabalho digno, além de viver livre da violência.
Hoje venho novamente no mesmo tema abarcando ainda o enfoque da sustentabilidade das mulheres sem energia. Literalmente sem energia e sem luz. Em pleno século XXI, ainda encontramos lugares e consequentemente milhões de pessoas sem energia elétrica, dependendo de carvão vegetal ou querosene para cozinhar.
Segundo dados das Nações Unidas, 70% dos pobres são mulheres, que sem eletricidade acrescentam ainda mais trabalho em sua rotina diária, em países pobres na África e na Ásia. E podemos encontrar ainda no nosso próprio país, onde persiste a extrema pobreza.
O gasto do tempo a mais em busca de lenhas para cozinhar, faz com que as mulheres tenham menos tempo para elas, para dedicar ao seu lazer, à sua educação, ao seu momento de ser mulher sem ser um fardo.
Segundo a IRENA, Agência Internacional de Energias Renováveis, “são as mulheres que suportam as consequências de não ter eletricidade ou combustível limpo para cozinhar”.
É um típico caso de pobreza energética, que ocorre quando as pessoas não podem arcar com os custos básicos de energia para aquecer suas casas, preparar alimentos ou iluminar seus ambientes. As causas estariam no alto custo da energia, principalmente em casos de pessoas com baixas rendas, com dificuldade de pagar as contas. Pessoas que moram em casas antigas, com péssima estrutura e isoladas de outras
Como consequências dessa pobreza energética em pleno século XXI, temos mulheres como menos tempo ao lazer, com maiores problemas de saúde, com péssima qualidade de vida e traz um isolamento social.
A exposição ao frio ou ao calor excessivo pode causar doenças respiratórias, cardiovasculares e outras complicações de saúde. A falta de energia impede a realização de atividades básicas, como estudar, trabalhar e se relacionar socialmente. E além disso tudo, ainda existe o impacto ambiental, a busca por fontes alternativas de energia, como a queima de lenha, pode causar problemas ambientais e agravar a saúde das pessoas.
A falta da energia não deixa de ser uma violência contra a mulher pobre. Para combater essa violência da pobreza energética, é necessário adotar medidas que abrandem os impactos sociais e ambientais desse problema. O uso das energias renováveis é um fator de inclusão e de melhoria na vida dessas mulheres. Somente assim será possível promover a justiça social, a saúde e o bem-estar das pessoas, além de contribuir para a construção de um futuro mais sustentável para as mulheres.
Cristiana Nepomuceno é bióloga, advogada, pós-graduada em Gestão Pública, mestre em Direito Ambiental. É autora e organizadora de livros e artigos.